O QUE É MORAR BEM? – Revista Joyce Pascowitch Fevereiro 2008
“Morar bem” pode ter vários significados diferentes…
Para aqueles que não tiveram a chance de sequer ter um teto para morar, “morar bem” pode ser apenas “ter um bom colchão”.
Para os que tiveram todas as chances, o conceito de “morar bem” vai se modificando durante a vida.
No começo, o quarto do bebê, o gosto da mãe, a mesmice infantil.
Depois, os primeiros desejos, as cores, o lugar de brincar.
Mais tarde, os primeiros sintomas da personalidade, o quarto que se transforma num mundinho particular, a loucura.
À medida que vamos crescendo, começamos a acumular – os discos, os livros, os cacarecos.
Começamos a perceber que são estas as coisas que nos traduzem.
Nossa casa vira um amontoado de lembranças, começamos a colecionar objetos, arte, inutilidades.
“Morar bem” já não cabe em nosso espaço.
Sentimos necessidade de exibir, de receber pessoas em casa, de aumentarmos a família.
Enfim, de mais espaço.
É tudo tão grande que os desencontros ficam mais frequentes, a solidão aumenta, o vazio torna-se insuportável.
Amadurecemos, e o significado de “morar bem” continua a se modificar.
Já não estamos tão satisfeitos assim, em nos perdermos dentro de nossa própria casa.
Vamos chegando à última parte da vida, e bate uma vontade de sintetizar, jogar tudo fora, se desfazer, procurar a essência, se ver livre… finalmente.
Daí, “morar bem” significa estar no menor espaço possível, ficar só com aquela peça que resume toda a coleção.
Significa, a simples parede branca.
É quando fica claro que não precisamos realmente de muita coisa.
Nada muito além de um bom colchão.
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