Viajando pela Internet, pesquisando para a próxima edição da Revista Mercato Immobiliare, deparo-me com mais informação do que seria possível utilizar. Nestes momentos dou graças à inspiração de criar este blog para compartilhar com vocês minhas descobertas… Antonio Caramelo escreve e projeta lindamente, acompanhe o texto impecável do artigo abaixo.
– Aqui estou de volta, o mesmo cético que foi… Mentira!!! Impossível, não creio que alguém consiga ir a Dubai ou Abu Dhabi de olhos abertos, mente processando, “HD” novo e muita memória pra voltar incólume, distanciado ou descontaminado. Muito embora minha vovó já dissesse que “nesse mundo tem gente capaz de tudo e ainda sobra gente”, mas, que é difícil é.
– Fui e voltei lendo tudo que me chegou às mãos sobre essa região e suas cidades, tendo me chamado a atenção um livro sobre entrevistas com arquitetos do Hanno Rauterberg no qual há um trecho em que ele pergunta a Rem Koolhas: Por que os prédios vanguardistas estão tão populares? “Acho que estamos vivendo o triunfo da excentricidade” disse Rem. Essa frase não me saiu da cabeça durante todo o tempo em que estive visitando os Emirados. Tal era a escala de tudo que minha mente não parava de fantasiar, por exemplo, como seriam passados os “Brieffings” aos arquitetos? Já que os hotéis eram paradisíacos, os shoppings gigantescos e exuberantes, landscapes transcendentes, residenciais divinos, comerciais e empresariais inimagináveis, além do que tudo extravagantemente superlativo em termos de escala, e como se não bastasse tudo isso, chamava a atenção o cuidadoso paisagismo irrigado com água dessalinizada, transformando o outrora deserto em jardins floridos, pontuados por formosas tamareiras e redesenhados por lagos e canais de água salgada bombeada do Golfo Pérsico ou Arábico como gostam os nativos de Dubai.
– Do Burj Dubai com seus 800 metros de altura não vou nem falar…
– Faraônicas obras! Túnel sob o mar, trem em monotrilhos deslizando suspenso sobre o tronco da Palm Jumeirath, bases imensas entre as quais passamos compunham Decks Parking sobre os quais serão erguidas torres comerciais independentes para em seguida virem a se unificar formando o sugestivo fuste do Donald Tramp Tower, cuja maquete tivemos acesso e tanto nos encantou pela bela estética e engenhosidade construtiva.
– Surpresa após surpresa ainda sobre um único trilho, como na música do Gil, parecia sonho o tal expresso Dubai imitando o 2222, desfilando entre marinas, hotéis, condomínios, praias, parques, lagos e piscinas que constituíam a Palm Jumeirath em direção ao colossal Hotel Atlantis como se fossemos passar pelo centro do gigantesco vão livre em forma de “arco lanceolado” tão comum nas mesquitas árabes. Efeitos espetaculares, visões do Éden, sensações de irrealidade que de tanta fantasia bem poderiam ter sido criadas pelo mago George Lucas. Ao nos deslocarmos pela magnífica Sheikh Zayed Road, duas ou três centenas de empreendimentos inevitavelmente nos saltam aos olhos durante o percurso, como se disputassem a contemplação por seus predicados de criatividade e beleza plástica, ousadia construtiva, espacialidade e escala, pretensão, exagero e até bizarrice. Uma verdadeira festa de Egos dos “Arquitetos Estrelas” como passaram a ser designados pela mídia internacional esses profissionais, cujas obras são antes analisadas por suas formas espetaculares que por seu significado, espacialidade, funcionalidade ou coerência com o espaço, meio e materiais dentre outros, deixando claro que hoje tudo é decidido pela última ideologia que ainda temos, a ideologia do mercado.
– Discute-se muito o “autismo” da arquitetura em Dubai. Embora também seja um problema ocidental, todos andam de carro até mesmo para se ir de onde se moram até o prédio vizinho, como observou Hanno, daí estarem fazendo eles lá o que estamos fazendo aqui nas grandes cidades brasileiras os “Mix-used”, ou seja, misturando residências e escritórios – “tudo para romper com o autismo da arquitetura”. Houve uma identidade muito grande de pensamentos, pois, compartilhamos do mesmo sonho, ou seja, criarmos lugares que sejam na sua maioria públicos, acessíveis, visitáveis e por que não transitáveis, funcionando como meio de ligação através de grandes empreendimentos, a exemplo de alguns já executados na Av. Faria Lima-SP, em especial o Brookfield Towers (2008) e Brookfield Malzoni (a ser construído) projetados pela Botti Rubin Arquitetos.
– Em verdade não voltei mais o mesmo, nem voltaria, como nunca voltei o mesmo depois de visitar lugares com histórias de passado ou de futuro significativos. Também é verdade que voltei com menos respostas que quando fui, tamanha a provocação, voltei me perguntando tanto que as quase 15 horas de vôo no retorno até São Paulo foram poucas para tanta reflexão.
– Ao final foi grande o progresso! Não consegui responder conclusivamente a nada, mas, consegui resumir as muitas questões a cinco que me pareceram essenciais, são elas:
1. Você concebe um mundo sem arquitetura?
2. De que é feita a arquitetura?
3. Em arquitetura o que é importante para se viver bem?
4. Na arquitetura o que nos torna feliz?
5. O que é de fato uma boa arquitetura?
– Questões estas que levarei para responder durante as férias de fim de ano, com o espírito mais elevado, sem prazo e me permitindo o devaneio de pensar sem hora marcada.
– O certo é que, o fato de “Bilbao” ter se transformado pós-advento do Museu Guggenheim do Frank Gehry, num dos lugares mais visitados da Espanha e um ícone da nova arquitetura no mundo, fez com que outras cidades importantes tentassem a mesma fórmula como fonte de recursos e sucesso. Dubai e Abu Dhabi nos Emirados Árabes seguiram a mesma fórmula, só que em outras proporções, com grandiosidade, muita ousadia, pouco tempo, desmesurada pretensão e grande complexidade. Para isso, não só convidou os maiores nomes da seleta constelação arquitetônica mundial que assinaram hotéis, empresariais, parques, marinas, autódromo, comerciais e residências, clubes de hípica, pólo, golf, uma Sorbone, um Louvre e um Guggenheim do próprio Gehry, além de outros museus em Abu Dhabi projetados por Norman Foster, Hadid, Jean Novel e Tadao Ando, mas, para transformar Dubai e Abu Dhabi completamente, no sentido figurado, em ilhas da fantasia, ilhas da alegria, ilhas dos negócios e turismo sobretudo… Imperdíveis sobre todos os aspectos!!!
– Bem, para não ficarmos só na platéia analisando, criticando ou batendo palmas, devo informar que também estivemos no palco, pois, participamos da Big 5 ou “Big Five” como queiram, maior feira de engenharia e arquitetura realizada por lá, expondo juntamente com importantes colegas via ASBEA/ APEX os nossos trabalhos com direito à catálogo e participação na Câmara de Comércio Brasil – Arabia. (Logo estará no site: www.caramelo.com.br)
– Dubai, Abu Dhabi até já!
– Dez dias é pouco tempo para muito que se tem para ver, decodificar, analisar, absorver, expurgar, aprender, questionar e até esquecer, pois é, tem gente que foi, viu e não gostou. Então?… É como dizia vovó, lembram? Simplificando… “Nesse mundo tem gente pra tudo e ainda sobra gente”
– Até Dubai.
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www.portaldoarquiteto.com/
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