Trocar ou recuperar o piso de madeira, no momento da reforma, é uma decisão que envolve uma série de critérios. “Como profissional que tem preocupação com a sustentabilidade, recomendo que os tacos ou assoalho sejam restaurados. Mas, se for imprescindível substituir por outro material, é essencial que o piso seja de madeira certificada. Para identificar a procedência do material, há o selo FSC que garante às empresas controle efetivo da madeira”, orienta a arquiteta e mestre Marcia Mikai Junqueira de Oliveira, titular do escritório Pentagrama Projetos em Sustentabilidade.
A arquiteta destaca propriedades que tornam o piso de madeira bem-vindo em praticamente todos os ambientes. “Este é um material natural e recurso renovável, agradável ao tato e isolante térmico”, diz.
Para Ricardo Tosi, diretor da Aplicadora Master, a princípio, todo piso de madeira pode ser recuperado, independente do seu tipo ou formato – taco, régua ou assoalho. “Desde o Ipê, que é o mais resistente de toda a cadeia, até a amêndola, menos densa e que marca mais, todos podem passar por este processo”, diz, informando que quanto mais escura, mais resistente é a madeira.
RASPAGEM PODE IMPEDIR RECUPERAÇÃO
“A madeira é um material que vale a pena recuperar, exceto
quando o piso já foi muito raspado. Após algumas raspagens, as beiradas de
encaixe do piso ficam fragilizadas, aumentando a possibilidade de trincas ou
quebras das peças”, alerta a arquiteta. Tosi complementa dizendo que em
condições ideais o material pode ser raspado até cinco vezes ao longo de sua
vida útil e acrescenta: “Quando há algum taco solto, em alguns casos é possível
reaproveitar a própria peça ou, então, instalar um novo, que é igualado aos
demais pelo processo de raspagem”.
COMO RECUPERAR
O primeiro passo da raspagem é o desengrosso, que retira a
resina e nivela o piso. Depois são usadas as lixas mais finas para polimento.
“Hoje não se usa mais o pó da madeira e cola para a calafetação, que saía muito
rápido. É usada uma massa acrílica da cor do taco ou assoalho, ou colas de
poliuretano. Os materiais estão mais duráveis, seguram melhor os tacos, secam
mais rápido e trabalham junto com a madeira”, explica.
As resinas também evoluíram: antes, eram mais duras e
trincavam com a movimentação da madeira. Agora são usadas as resinas de
poliuretanos à base de água. “Essas resinas secam em apenas oito horas e curam
no prazo de 24 horas até sete dias, dependendo da resistência – ou seja, quanto
mais resistentes ou de altíssimo tráfego, mais rápida é a cura. Soluções como o
sinteco, à base de ureia e formol, ainda estão presentes no mercado, porém,
demoram três dias para secar e até trinta para curar, ou seja, exalam cheiro
por todo esse tempo. As atuais não têm cheiro e aceitam retoques”, destaca.
Por
se tratar de poliuretano, a resina é flexível, assim como a madeira que
movimenta conforme a umidade do ar e a temperatura. As resinas com mais brilho
são as mais resistentes, porém, arquitetos e consumidores já há tempos vêm
optando pelo tratamento fosco.
CUIDADOS
“O contrapiso exige cuidados, tanto na recuperação quanto na
instalação do piso novo. A impermeabilização deve ser muito bem projetada e
executada”, recomenda Marcia Mikai.
1- Todo piso térreo sofre o impacto da umidade do solo. Por
isso, Ricardo Tosi orienta que, antes da recuperação do piso ou da instalação
de um novo, a condição do contrapiso seja avaliada. “O risco de não fazer a
impermeabilização é a movimentação da madeira, causada pela umidade. Se receber
umidade, a madeira incha e as peças empurram umas contra as outras. Como não há
para onde expandir, levantam, empurrando tudo, inclusive rodapés e paredes. Há
casos em que as paredes foram rachadas”, alerta.
2- Em caso de reforma, especialmente no andar térreo, é
preciso que o contrapiso já esteja impermeabilizado. Para a instalação de um
piso novo a impermeabilização é feita com resina que o próprio aplicador pode
executar.
3- Na etapa seguinte, os tacos ou assoalho são colados. A
cola branca usada no passado para instalar o piso foi substituída pelo
poliuretano, com a vantagem da secagem rápida, permitindo a raspagem e
aplicação da resina em dois ou três dias contra 20 a 30 dias da cola.
4- A instalação dos tacos ou do assoalho deve ser feita com
uma distância de, pelo menos, 0,5 cm da parede e do rodapé, caso contrário,
quando a madeira incha, as réguas vão empurrar umas às outras e encanoar. Tosi
observa que a atual tendência da arquitetura de instalação de rodapés embutidos
– a parede é escavada para instalação do rodapé no seu alinhamento –, apesar de
visualmente atraente, é uma solução técnica ruim para a madeira, pois não deixa
espaço para sua expansão.
OPÇÕES E TENDÊNCIAS
O piso de madeira tem, em geral, dois centímetros de
espessura, mas já começam a surgir no mercado produtos similares aos europeus,
constituídos por pisos estruturados em compensado com apenas um centímetro de
madeira pura.
Por outro lado, permanece a tendência dos pisos de demolição.
“Existem os pisos originais de demolição, vindos principalmente de residências
do sul do país, que são retirados e realinhados. Mas eles podem ser também
fabricados, ou seja, uma plaina atua criando a aparência de madeira rústica”,
explica Tosi.
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